Maceió é uma cidade interessante porque, entre coisas como “O paraíso das águas” e “A capital do reveillón”, é uma região evidentemente coronelista. Por isso, ser gay em Maceió é foda pra caralho. O foda positivo são as imposições que levaram os meus amigos e eu a exercerem certa criatividade para ficarmos à vontade em nossas peles. Enquanto que nos picos regulares os héteros se preocupam em fazer rodinha de disputa de vodka e energético, as nossas festas podem até ter essa combinação (bem gostosa, por sinal), mas tem chuva de glitter. E som bom. E amigas lindas que seriam enchidas por bêbados chatos dos picos héteros, mas que preferem o refúgio da nossa Maceyork colorida e sem catracas. O foda negativo, bom, são os dramas de reconhecimento & autorreconhecimento regulares. É engraçado: antes mesmo de sair do armário, os amiguinhos da escola escancaram a porta deste lindo objeto e enxutam o viadinho de lá somente pelo prazer de expô-lo ao ridículo. Como nunca gostei de apanhar e nem de bater, apostei, na época, na opção mais segura: imitar o comportamento heteronormativo mais caricato que tiver, ou seja, em uma linguagem canina, isso significa sair mijando nos postes das ruas. Continuo fazendo xixi na rua hoje, mas também faço levantando a saia, de cócoras, para não melar os sapatos.
O mais importante disso tudo é deixar claro que em Maceió, ser gay, é algo muito distante do convívio social, as pessoas não estão acostumadas com gays, que demonstram sua viadagem. As pessoas que são gays e demonstram a sua sexualidade, normalmente são marginalizadas, pobres e que moram em periferia. É sempre bicha pobre. Então esse movimento de sair na rua, chegar a um bar e passar batom vermelho em um rosto de barba, cria uma contracultura de um jeito engraçado. E essas pequenas ações, fazem diferença nesse convívio, agindo na construção de aceitação sobre novas realidades e novas formas de viver. Ser gay em Maceió é bafo porque pertencemos ao Estado de um rumor maravilhoso: sabiam que o Lampião pode ter sido gay?
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