patrícia bárbara

COMO É QUE CHEGUEI ATÉ AQUI

O caminho por vezes é em reta, porque sempre em curva. A reta é uma curva que
nos faz chegar mais rápido entre dois pontos, sem promover saltos, sem que
percamos aquilo que está pelo caminho. Eu, por hábito, caminho o caminho.
Destarte, a observação é exegese da ação. A prática primeira, anterior, prévia às
criações de lógicas.

No meu caminho, vou da exegese à lógica, ou pelo menos tento conscientemente
que assim o seja. E este todo atravessa os diversos níveis da minha vida, quer seja
de produção artística, princípios filosóficos, questões existenciais, dissabores da
alma.

Faço um trajeto master, que inclui todas estas relevâncias e vou desdobrando as
surpresas que aparecem ao longo do percurso e fazendo delas conhecimento,
memórias, relações contextuais.

Mas, é verdade: posso conter em mim mais que uma única urgência. E posso me
permitir um tempo que elas me recorram, sem constituir com isto covardias ou
fraudulentas verdades.

Que segredo se faz quando se está incerto? Quando você não reconhece um
silêncio, ou quando este se faz por caráter compulsório, é minorável o fato de que
aquilo foi o que se constituiu? Trabalhamos, então, apenas com os desejos
hipotéticos e aspirações utópicas e o que fica aquém disto é necessariamente
desprezível?

Reservo-me o direito de me conhecer, de diariamente me averiguar, conversar
comigo, ralhar, enternecer, e por isto acreditar em mim. E pautar minha vida pela
honestidade de tal retórica e pela bravura de dar a cara a tapa.

Garanto que os tapas chegam. E alguns te arremessam longe, e portanto te dão
perspectiva, e outros apenas te esmagam; mesmos destes aprendo o que for
possível.

Eu gosto do impossível. Persigo seus deslimites. Mas soube aos 11 anos de idade
que quando não se lida com o infinito, o impossível poder ser apenas o possível de
como lidar com isso. Persigo o impossível mas não considero demérito os meus
possíveis.

Dez banhos por dia podem ser só um banho. Ou podem ser alguém em busca de
algo. E este algo pode ser só um banho. E se Marcel Duchamp já visitou o “é só
isso” há 93 anos, e se a lógica da contemporaneidade diz que então, pra ser só isso,
eu não posso ser só Duchamp, então eu preciso necessariamente me retirar? Ou
então, preciso necessariamente angariar o tal do “plus a mais” pra me validar?

Eu quero o canto, e quero que me olhe quem quer me olhar, e espero ser presente
o bastante pra que isto se dê. Mas a minha pergunta, a minha dúvida sobre quem
me olhará e por que, é parte do meu objeto de estudo e muito provavelmente do
meu resultado performático. E se a minha pergunta não basta, é nesta hora que
preciso fincar o pé, e afirmar: eu acredito em mim. Porque me conheço, porque me
duvido, porque me questiono, e porque acreditar numa idéia, atribuir-lhe valor, e
lutar por ela, não é estranho a mim, modo algum. E não pretendo antecipar todos
os entendimentos, comentários, devoluções que ocorram em decorrência da minha                   pergunta em modo performático, mas estarei em espreita, indubitavelmente, que de                 exegeses e lógicas vive o meu pensamento.

Visto-me de mim mesma.

Alguém ai quer adentrar a minha roupa?

 

A Boneca Conceitual

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