Faço-em-ti-e-tu-faz-em-mim
As investidas poéticas/estéticas que apresento são um encontro subjetivo entre o corpo e a imagem como captadores e extensores da realidade que percebo. Essa ideia de ‘real-realidade’, parece um tanto devastadora no sentido que aponta à individualidade, ao singular, a experiência cristalizada, não apta a divisão, tudo isso de forma exacerbada. Se quero me dividir, assumir a duplicidade, ser gêmeo de meu desconhecido-separado, praticar a alteridade ou sabotar minha condição de sujeito, seja em forma de sujeitado-subjugado ou irradiador-captador de ações, como posso querer apreender o real, ou mesmo lança-lo uma percepção? Isso me parece mais um jeito de auto ilusão e um engano no melhor estilo cinema clássico hollywoodzista infantil do início dos noventa. Tudo bem, acontece. O que eu queria dizer é que nesses trabalhos, me pergunto como se faz para ter a disposição artefatos e dispositivos que toque, de maneira suave e direta, algum outro?
Então faço o seguinte, dou uma olhada no entorno e se algo me atravessa, me passa, ocorre e corre através de mim, presto atenção, mais no sentido meditativo, de múltiplos focos moventes de atenção sem tensão vagamundeando pelo espaço, do que uma atenção educacional, com propósitos e objetivos definidos que levarão a um ponto de chegada. Tento deixar o ar de fora rasgar minha pele no alargamento demasiado dos meus poros, já o orifício arregaçado, sinto que penetra em mim como se de agua fosse, daí faço desaguar em meu afluente e transbordo. Da energia que vem de fora, é o movimento onde pego carona para passear por dentro e voltar, mais veloz, mas furioso, mais cheio de sedimentos. E feito um mar revolto quero levar tudo ao redor, sem dó nem pena, sem juízo de valor e sem preferencias. É destruir para refazer, é desfazer para fazer.
Nesse campo elástico e distendido, feito de sal e criaturas enormes e magnificas, entre aquilo/aqueles que percebo e sinto que sou percebido, ou melhor, quando me (des)mimetizo do cotidiano e berro rodopiando nu entre batidas fortes de pé no chão num ímpeto indígena ancestral ou bunda a rebolar, para ser visível, visualizar-me, é que decreto acontecer-me com a arte, e gozo enlouquecidamente, sem controle. E só acontecer é necessário, é a presença que confunde a finitude, o que acabaria perdura, o espaço das mil e uma noite de estórias no tempo de um momento contado ao contrário. É desejo que não acaba mais, é vontade que cega, um despencar do infinito.
Silmarp julho 2015
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